ACTA NOTURNA - PARNAMIRIM, O QUE APARECEU PRIMEIRO, O RIO OU O LUGAREJO? - 3.9.2025

 


O topônimo Parnamirim apareceu escrito, pela primeira vez, no século XVII, exatamente em 1643, e essa menção se confunde entre o rio e o lugarejo em termos de origem. Tudo começou quando o holandês Maurício de Nassau solicitou que o cartógrafo alemão Georg Marcgraf (1610-1644), que também era astrônomo e biólogo, elaborasse mapas do nordeste brasileiro – ocasião em que eles, assim como os portugueses haviam feito em 1500 em suas aventuras por ouro e colonizações - se depararam com o Nordeste. Supostamente esse mapa é o primeiro na América a trazer indicações de longitude e latitude e a revelar não somente aspectos geográficos, mas também culturais da região dominada pelos holandeses. Foi nesse ano que a palavra “Parañá-Miri” – que significa rio pequeno -, apareceu pela primeira vez escrita em papel.

Nesse tempo os desenhistas de mapas (cartógrafos) percorriam os lugares a pé, e sobre lombo dos cavalos e jumentos costeavam as praias e apanhavam depoimentos de indígenas e outros europeus que se aventuravam nas florestas centrais do Brasil. Nesse empreendimento, conversavam com os índios e tomavam nota dos lugares, rios e acidentes geográficos - todos obviamente em línguas indígenas - e depois iam construindo os mapas. Com o passar do tempo os homens brancos foram aportuguesando os topônimos. Assim se chegou à palavra “Parnamirim”.

O topônimo originou-se das palavras indígenas, em tupi, “Paraná, que significa “rio”, e “Mirim”, que significa pequeno, conforme Teodoro Sampaio (1855-1937) e Câmara Cascudo (1897-1986). Na realidade a história diz que o nome veio do rio pequeno, rio que desaguava no Oceano Atlântico, emoldurado pelas roças de milho e macaxeira dos indígenas locais. Sabemos que historicamente, os homens brancos se instalavam em regiões próximas a rios e nascentes. E assim ocorreu nas imediações do "paraña-miri". Os aventureiros passaram a habitar ambas as margens e sempre usando o topônimo "paraña-miri" como identificação de lugar. Assim o rio foi emprestando seu nome ao que podemos chamar de lugarejo, e que, depois se aportuguesaria para Parnamirim.

Nesses longínquos tempos o homem branco, ao chegar pela primeira vez em terras permeadas de povos indígenas, permaneciam reverberando os nomes lidos nos mapas antigos. Tal fenômeno era comum a todos os lugarejos brasileiros, cujos exploradores se serviam dos topônimos indígenas, perpetuando-o. Da mesma forma tem-se Pirangi (Pirangipepe: rio de peixe), Cajupiranga (caju vermelho), Japecanga (fruto do cipó de casca seca), Pitimbu (fumar) etc. O próprio município de Papary (município vizinho, hoje mudado o nome para Nísia Floresta) fazia divisa com natal, significando dizer que a área de Parnamirim já pertenceu a Nísia Floresta nos primórdios, conforme rezam os velhos decretos governamentais e documentos lidos por mim e que tratam das divisas dos municípios potiguares.

Não havia como batizar o lugarejo com outro nome, tendo em vista a denominação genuína do rio, a qual foi incutida naturalmente na memória dos ancestrais e dos que ali chegavam. O rio, como forte elemento geográfico, teve o seu nome naturalmente condicionado à localidade sem que possamos saber com exatidão quando passaram a usá-lo para - também - se referir ao lugarejo, mas, com certeza, esse nome ´secular.

Os habitantes se acostumaram com a palavra indígena, e nunca mais se pensou em mudá-la, aliás, séculos depois, na década de 1980, com o município já emancipado politicamente, deu a louca na mente de alguns vereadores que mudaram o nome para Eduardo Gomes. Mas não demorou muito. A população não achava doce o brigadeiro e, unanimemente, protestou, foi à Assembleia Legislativa e exigiu de volta o topônimo original. Assim Parnamirim voltou a ser Parnamirim.

Li um assento de casamento que me deixou surpreso, pois consta ter ocorrido em Parnamirim. Até aí, nada de extraordinário, mas ocorre que o casamento se deu no dia 7 de fevereiro de 1728 - há 297 anos -, o que nos leva a perguntar: existia Parnamirim em 1728? Ora, se está escrito é porque existia. Obviamente que não era município, mas um um lugarejo. A grande curiosidade é a seguinte: pertencia a São José de Mipibu ou a Papary (Nísia Floresta)? Veremos adiante.

O noivo, José Martins de Oliveira (nascido em 14 de novembro de 1702, e falecido em 1780), casou-se com Catherina Amorim Freire (nascida em 1704). Os padrinhos de batismo de José Martins de Oliveira foram: Manoel Rodrigues Taborda e Dona Joana de Barros Coutinho. E como testemunhas desse casamento constam: Cel. Teodósio Freire de Amorim e sua esposa Damásia Gomes da Câmara; e o Capitão Bonifácio da Rocha Vieira (filho de Teodósio da Rocha) e sua esposa Inácia Gomes de Freire (filha de Antônio Dias Pereira).

História, como sempre digo e todos sabem, é quebra cabeça. Vejam que o sobrenome do padrinho de José Martins é “Taborda”. Taborda é uma localidade de São José de Mipibu, situada na divisa com Parnamirim. Taborda significa “lugar de taboas”, uma planta aquática, comestível. Temos Taborda no Brasil todo, tanto a fruta quanto o sobrenome. Vai do cantor gaúcho Ivan Taborda, lá das bandas do Rio Grande do Sul ao Taborda do Rio Grande do Norte, como vemos.

O sobrenome Taborda carrega raízes profundas na Península Ibérica, embora sua origem seja alvo de debates entre os estudiosos. Alguns defendem que teria surgido na Galícia, mais precisamente em São Miguel de Taborda, enquanto outros apontam para uma matriz ainda mais remota: a língua dos guanches, povo nativo das Ilhas Canárias anterior à conquista castelhana no século XV, em cuja tradição taba significaria “rocha”.

Em território português, a referência mais antiga ligada a esse nome surge no século XIV. O fidalgo galego Garcia Rodriguez de Taborda, favorecido pelo rei D. Fernando (1345–1383), recebeu o cargo de alcaide de Leiria e o senhorio de Porto de Mós. A partir daí, o sobrenome começou a ganhar visibilidade em Portugal, sempre associado a famílias de prestígio e a territórios de importância estratégica.

A travessia do Atlântico ocorreu no século XVII, trazendo o sobrenome para o Brasil, vindo nas caravelas lusitanas. Pernambuco guarda um episódio emblemático: em 1654, na chamada “Campina do Taborda”, os holandeses formalizaram sua rendição, encerrando um período de ocupação. O topônimo da região remete a um pescador chamado Manuel Taborda, cuja presença se eternizou na história local.

Com o passar do tempo, o sobrenome espalhou-se por diferentes províncias brasileiras. Em Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, tornou-se comum entre diversas famílias. É no sul do país que se destaca a figura de Francisco Corrêa Taborda (1797–1869), neto do português Antônio Rodrigues Taborda, cuja trajetória encerra um ciclo que une as tradições ibéricas ao enraizamento definitivo em solo brasileiro. Por tudo isso suponho – acaso o sobrenome não seja um equívoco paleográfico – que Manoel Rodrigues Taborda era português ou filho de portugueses. Convém destacar que o Cel. Teodósio Freire de Amorim, que consta como testemunha deste casamento, era uma figura notável e muito rica da região, dono de propriedade e escravos.

Diante do exposto, é muito provável que esse casamento se deu na localidade de Taborda. O padrinho Manoel Rodrigues Taborda traz esse sobrenome das pias de Portugal ou o tomou emprestado da localidade? Sabemos que o povoado de Taborda, atualmente, fica na divisa dos municípios de São José de Mipibu e Parnamirim, portanto podemos supor que o rio que margeia esse povoado pode, originalmente ter tido o nome de rio Parnamirim e que o lugarejo assim se dominava, pois Parnamirim era localidade isolada, que, pelos documentos de época, em termos de divisas de municípios, não pertencia a Natal, mas a Papary ou São José de Mipibu, mas como o casamento se deu sob os paramentos da Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, pertencente a Natal, dá-se a impressão de que Parnamirim pertencia a Natal àquela época. Mas um detalhe é certo: quando vemos um assento de casamento datado de 1728, em Parnamirim, constatamos que o lugarejo já era reconhecido como topônimo a mais tempo do que se supõe.

O que se sabe sobre a origem do topônimo Parnamirim é que se trata de um rio, mas até hoje nunca precisaram qual rio é esse. Por Parnamirim também se sabe da existência de uma lagoa que está situada dentro da Base Aérea de Natal. Nesse local, conforme contam os velhos alfarrábios, Amélia Duarte Machado, a famosa “Viúva Machado” adorava fazer seus convescotes com o filho Humberto e os netos.

Fica para a próxima Acta Noturna um tratado sobre os limites geográficos que compreendem Natal e Papary – modificado várias vezes – quando, então, poderemos precisar a partir de que ano Parnamirim (bairro/lugarejo) passou a constar na geografia de Natal.


ACTA NOTURNA - PARNAMIRIM, O QUE APARECEU PRIMEIRO, O RIO OU O LUGAREJO? - 3.9.2025

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