![]() |
D. Irene Costa Miranda |
No dia 1º de abril de 1938, data que as tradições consideram como o Dia da Mentira, nasceu uma mulher cuja vida é um testemunho de autenticidade e verdade. Estou me referindo à ilustre senhora Irene Costa Miranda, uma figura emblemática de Parnamirim, Rio Grande do Norte. Embora os jovens da cidade possam não conhecê-la, os mais velhos certamente reconhecem sua importância e a dignidade que a acompanha.
Dona Irene reside, de forma quase invisível, no coração pulsante da cidade, em uma casa que, ao longo de quase quatro décadas, foi engolida pelo comércio vibrante e pelo incessante fluxo de pessoas e veículos. Sua história em Parnamirim se estende por 72 anos, um testemunho de resiliência e adaptação às transformações que moldaram esta cidade. Tendo a emancipação política de Parnamirim ocorrido em 1958, há 67 anos, temos em dona Irene uma testemunha vida de toda a história do município, pois ela viveu indiretamente todos os principais fatos da organização do município até o presente.
Essas pessoas, talvez por sua simplicidade, seguem desconhecidas ou preteridas por outras, tendo em vista o hábito que o sistema tem de atribuir louros e tapetes vermelhos apenas àqueles que ocuparam postos considerados pelo imaginário popular como "superiores". E, na verdade, não há histórias superiores. Há histórias diferentes, e esse é o caso da sra. Irene, que faz parte dos pioneiros que se arrancharam nesta cidade, num tempo difícil em que se contavam as casas, cujos tabuleiros de mata rasteira se perdiam de vista e a cidade, que ainda não era emancipada, cheirava a alecrim. Foi nesse cenário que essa mulher aqui chegou e tornou-se, juntamente com o seu esposo, uma das famílias antigas, que participariam da construção do município, que acreditaram nessa terra, lutaram muito e ergueram os seus legados.
Viúva há alguns anos, Dona Irene é filha de Euclides Costa Medeiros e Luiza Carlos Damião, mas, infelizmente, não teve a oportunidade de conhecer seus pais. Ela e sua única irmã, Maria de Lourdes Medeiros, foram criadas pelos avós, Damião Carlos dos Santos e Maria Cândido da Conceição, que lhe proporcionaram um lar repleto de amor e ensinamentos.
![]() |
Dona Irene viu Parnamirim adquirir fisionomia de cidade desde os primórdios e conta a experiência com orgulha. |
Em 1954, dona Irene conheceu Antonio Miranda, um
jovem que se tornaria seu esposo. Ele era natural do Arenã, distrito de São José de
Mipibu. Antonio havia se estabelecido na então “Vila de Parnamirim” desde 1952,
onde trabalhava como funcionário civil da Base Aérea e, nas horas vagas, como
bombeiro hidráulico. Ele foi o primeiro encanador da cidade, uma profissão que
muitos de seus filhos continuaram a exercer mesmo tendo seus empregos fixos. Eles tomaram gosto pelo ensinamento do pai.
Antonio e Irene uniram-se em matrimônio no dia 15 de novembro de 1954, na cidade vizinha
de Monte Alegre. Naquela época, Irene tinha apenas 15 anos, mas era comum meninas se casarem cedo, assumindo responsabilidades que hoje parecem impensáveis. Assim, desde tenra idade, as meninas eram ensinadas a dominar as
artes do lar, cuidando da casa e dos irmãos, aprendendo a cozinhar, costurar, bordar, fazer renda e
realizar as tarefas domésticas.
Para sustentar sua grande família, o casal investiu em um espaço no mercado público, hoje conhecido como Mercado Velho. Apesar das dificuldades, Dona Irene ainda encontrou tempo para estudar, concluindo a 4ª série primária enquanto trabalhava como comerciante e feirante por mais de 15 anos, entre 1970 e 1980. A vida, no entanto, não foi isenta de tragédias. Em 1979, a família enfrentou a dor da perda de Aluísio Costa Miranda, um dos filhos, num acidente de trabalho. Ele era Cabo no Corpo de Bombeiros da Base Área. Em 1998, após 19 anos da morte desse filho, o seu marido faleceu e ela teve que pegar o cajado da família.
Hoje, aos 80 anos, com 22 netos e 6 bisnetos, dona Irene viu desaparecer muita gente antiga como ela, parte de sua mocidade, dos tempos da
Parnamirim que engatinhava. Saudosa, ela se recorda de muitos que já
se foram, mas dá graças pelos que ainda floreiam a sua existência. Para ela, um
dos maiores patrimônios de uma pessoa são as boas amizades. Desse modo ela se
recorda de alguns amigos comerciantes, alguns ainda vivos, como “Maria
de José de Aprígio”, “Seu Elias”, “Seu Djalma”, “Seu Paulo, da mercearia”,
“Dona ‘duVigem’”, “Dona Eridan”, “Francisca de Teixeira”, “Wellington da
verdura” e “Fernando do caldo de cana”, e outros já falecidos, como: “Manoel
Delfino”, “Afraudiso”, “Seu Nael”, “Seu Bubu”, “João Paisinho”, “Chico do
Ferro Velho”, “João Sabino”, “Seu Boa Vista”, “Seu Olegário”, “Zaú da carne”,
“Seu Pedro de Finha”, dentre vários. Pessoas queridas que, iguais a ela, aqui
se instalaram cheias de esperança, num tempo difícil, mas pautado de sonhos, vontade de vencer e acreditar num futuro melhor.
Miranda no "Natal das Crianças", Parque Aristófanes Fernandes, 2016 |
Ao longo de sua existência. Ela perdeu outros filhos e viveu
momentos de muita dor, mas segue firme, sempre preocupada com a
família, mesmo que tenha uma vida tranquila, que não precise dos filhos
financeiramente, ela se doa em primeiro lugar à família que
construiu com muito amor ao lado do falecido marido. Para ela, uma das suas
maiores alegrias é quando chega um filho em sua casa, nem que seja para pedir a
benção, tomar um cafezinho rápido e sair, ou quando todos estão juntos. Ela diz
“isso não tem dinheiro que pague, só de ouvir a palavra 'mãe' já é um remédio”.
Dona Irene, ao contar muitos dos episódios guardados em sua memória,
costuma dizer que “o segredo de tudo é lembrar das coisas boas, pois as ruins ficam no passado”. Lema que prova todos os dias com sua própria vida.
Sua marca é a irreverência, alegria, acolhimento e otimismo. É considerada
por todos que a conhecem como um exemplo de doação, coragem, força e fé. L.C.FREIRE - IHGRN
ABAIXO SEGUE OS DADOS DA FAMÍLIA:
Ordem |
Nomes |
Codinome
|
Data nascimento |
1 |
Irene Costa Miranda – Mãe |
Irene |
01 de abril de 1938 |
2 |
Antonio Miranda – Pai |
Seu Miranda |
02/07/1932 22/10/1998 |
3 |
Tadeu Costa Miranda – Filho |
Tadeu |
24 de agosto de 1954 |
4 |
Aluisio Costa Miranda – Filho |
Zuca |
00/00/0000 31/03/1979 |
5 |
Francisca Costa Miranda – Filha |
Vera |
12 de setembro de 1959 |
6 |
Selma Costa Miranda – Filha |
Selma |
|
7 |
Francisco Costa Miranda – Filho |
Miranda |
14 de abril de 1963 |
8 |
Wilson Costa Miranda – Filho |
Wilson |
02 de julho de 1965 |
9 |
Jaime Costa Miranda – Filho |
Jaime |
16 de novembro de 1966 |
10 |
Sales Costa Miranda – Filho |
Sales |
21 de fevereiro de 1968 |
11 |
Isabel Costa Miranda – Filha |
Isabel |
17 de agosto de 1969 |
12 |
Suely Costa Miranda – Filha |
Andréia |
18 de dezembro de 1972 |
13 |
Antonio Costa Miranda – Filho |
Toia |
30 de janeiro de1970 |
14 |
Jane Costa Miranda – Filha |
Jane |
|
Ordem |
Nome |
Qtd. Filho |
Qtd. Neto |
|
Tadeu Costa Miranda |
2 |
2 |
|
Aluisio Costa Miranda In memória |
||
|
Francisca Costa Miranda |
2 |
1 |
|
Selma Costa Miranda |
3 |
0 |
|
Francisco Costa Miranda |
2 |
2 |
|
Wilson Costa Miranda Solteiro |
||
|
Jaime Costa Miranda |
4 |
1 |
|
Sales Costa Miranda |
2 |
1 |
|
Isabel Costa Miranda |
2 |
0 |
|
Suely Costa Miranda |
1 |
0 |
|
Antonio Costa Miranda |
2 |
0 |
|
Jane Costa Miranda |
2 |
0 |
Nenhum comentário:
Postar um comentário