SRA. IRENE COSTA MIRANDA: UMA PIONEIRA GUARDADA NO CORAÇÃO DE PARNAMIRIM

D.  Irene Costa Miranda

No dia 1º de abril de 1938, data que as tradições consideram como o Dia da Mentira, nasceu uma mulher cuja vida é um testemunho de autenticidade e verdade. Estou me referindo à ilustre senhora Irene Costa Miranda, uma figura emblemática de Parnamirim, Rio Grande do Norte. Embora os jovens da cidade possam não conhecê-la, os mais velhos certamente reconhecem sua importância e a dignidade que a acompanha. 

Dona Irene reside, de forma quase invisível, no coração pulsante da cidade, em uma casa que, ao longo de quase quatro décadas, foi engolida pelo comércio vibrante e pelo incessante fluxo de pessoas e veículos. Sua história em Parnamirim se estende por 72 anos, um testemunho de resiliência e adaptação às transformações que moldaram esta cidade. Tendo a emancipação política de Parnamirim ocorrido em 1958, há 67 anos, temos em dona Irene uma testemunha vida de toda a história do município, pois ela viveu indiretamente todos os principais fatos da organização do município até o presente.

Uma das páginas que dona Irene conta é sobre a sua revolta quando mudaram o nome de Parnamirim para Eduardo Gomes. "Eu fui uma das pessoas que expressava toda a minha indignação por onde andasse, inclusive no Mercado Público. Isso foi revoltante. Ainda bem que derrubaram".

A história muitas vezes é ingrata, pois esquece de enaltecer pessoas pioneiras e que testemunharam um livro aberto de histórias, e que, a seu modo, são capazes de contar os mais interessantes fatos vividos, descortinar episódios curiosos, desconhecidos e que são merecedores de holofotes.

Essas pessoas, talvez por sua simplicidade, seguem desconhecidas ou preteridas por outras, tendo em vista o hábito que o sistema tem de atribuir louros e tapetes vermelhos apenas àqueles que ocuparam postos considerados pelo imaginário popular como "superiores". E, na verdade, não há histórias superiores. Há histórias diferentes, e esse é o caso da sra. Irene, que faz parte dos pioneiros que se arrancharam nesta cidade, num tempo difícil em que se contavam as casas, cujos tabuleiros de mata rasteira se perdiam de vista e a cidade, que ainda não era emancipada, cheirava a alecrim. Foi nesse cenário que essa mulher aqui chegou e tornou-se, juntamente com o seu esposo, uma das famílias antigas, que participariam da construção do município, que acreditaram nessa terra, lutaram muito e ergueram os seus legados.

Viúva há alguns anos, Dona Irene é filha de Euclides Costa Medeiros e Luiza Carlos Damião, mas, infelizmente, não teve a oportunidade de conhecer seus pais. Ela e sua única irmã, Maria de Lourdes Medeiros, foram criadas pelos avós, Damião Carlos dos Santos e Maria Cândido da Conceição, que lhe proporcionaram um lar repleto de amor e ensinamentos.


Dona Irene viu Parnamirim adquirir fisionomia de cidade desde os primórdios e conta a experiência com orgulha.

Em 1953, ainda solteira, a jovem Irene mudou-se para Parnamirim, onde passou a viver com seu tio-avô, Lucas Evangelista de Lima, carinhosamente conhecido como “Tiluca”. Ele se tornou uma figura paterna para as irmãs e, como funcionário da Base Aérea, residia na antiga Rua Fabrício Pedrosa, hoje Avenida Brigadeiro Everaldo Breves. 

Em 1954, dona Irene conheceu Antonio Miranda, um jovem que se tornaria seu esposo. Ele era natural do Arenã, distrito de São José de Mipibu. Antonio havia se estabelecido na então “Vila de Parnamirim” desde 1952, onde trabalhava como funcionário civil da Base Aérea e, nas horas vagas, como bombeiro hidráulico. Ele foi o primeiro encanador da cidade, uma profissão que muitos de seus filhos continuaram a exercer mesmo tendo seus empregos fixos. Eles tomaram gosto pelo ensinamento do pai.

Antonio e Irene uniram-se em matrimônio no dia 15 de novembro de 1954, na cidade vizinha de Monte Alegre. Naquela época, Irene tinha apenas 15 anos, mas era comum meninas se casarem cedo, assumindo responsabilidades que hoje parecem impensáveis. Assim, desde tenra idade, as meninas eram ensinadas a dominar as artes do lar, cuidando da casa e dos irmãos, aprendendo a cozinhar, costurar, bordar, fazer renda e realizar as tarefas domésticas.

Miranda, um dos filhos da dona Irene, ao lado de pessoas antigas de Parnamirim, com exceção a terceira e quarta pessoa da esquerda para direita que não são parnamirinenses. Miranda é  muito querido e respeitado, funcionário público, prestou relevantes serviços à Escola Presidente Teodore Roosevelt e à Fundação Parnamirim de Cultura, hoje SEMEC.

Após o casamento, os recém-casados viveram de aluguel por seis meses no bairro Água Vermelha, em Parnamirim. Em seguida, mudaram-se para uma casa própria na Rua Sargento Norberto Marques, onde nasceram a maioria de seus doze filhos, sendo o primogênito Tadeu, nascido em 1954. Em 1977, decidiram vender essa casa e adquiriram um novo lar na Avenida Brigadeiro Everaldo Breves, onde Dona Irene reside até hoje, completando 48 anos nesse endereço, ao lado da Caixa Econômica Federal.

Para sustentar sua grande família, o casal investiu em um espaço no mercado público, hoje conhecido como Mercado Velho. Apesar das dificuldades, Dona Irene ainda encontrou tempo para estudar, concluindo a 4ª série primária enquanto trabalhava como comerciante e feirante por mais de 15 anos, entre 1970 e 1980. A vida, no entanto, não foi isenta de tragédias. Em 1979, a família enfrentou a dor da perda de Aluísio Costa Miranda, um dos filhos, num acidente de trabalho. Ele era Cabo no Corpo de Bombeiros da Base Área. Em 1998, após 19 anos da morte desse filho, o seu marido faleceu e ela teve que pegar o cajado da família.

Essa bela casa ficava de frente à casa onde d. Irene mora atualmente. Foi demolida para construírem o Shoping de Parnamirim. Pertencia ao pioneiro Dom João Isaías de Macedo, que aparece na fotografia segurando uma criança. Ele era dono do primeiro açougue de Parnamirim.

Muito abalada, a matriarca assumiu sozinha as responsabilidades de mãe e dona de um grande lar. E conduziu os filhos com mãos de ferro, ensinando-lhes respeito, boas relações com os amigos e orientando-os a serem pessoas trabalhadoras e honestas. Nesse aspecto ela foi dura e não perdoava os menores deslizes da meninada, corrigindo-os de forma enérgica.

Hoje, aos 80 anos, com 22 netos e 6 bisnetos, dona Irene viu desaparecer muita gente antiga como ela, parte de sua mocidade, dos tempos da Parnamirim que engatinhava. Saudosa, ela se recorda de muitos que já se foram, mas dá graças pelos que ainda floreiam a sua existência. Para ela, um dos maiores patrimônios de uma pessoa são as boas amizades. Desse modo ela se recorda de alguns amigos comerciantes, alguns ainda vivos, como “Maria de José de Aprígio”, “Seu Elias”, “Seu Djalma”, “Seu Paulo, da mercearia”, “Dona ‘duVigem’”, “Dona Eridan”, “Francisca de Teixeira”, “Wellington da verdura” e “Fernando do caldo de cana”, e outros já falecidos, como: “Manoel Delfino”, “Afraudiso”, “Seu Nael”, “Seu Bubu”, “João Paisinho”,  “Chico do Ferro Velho”, “João Sabino”, “Seu Boa Vista”, “Seu Olegário”, “Zaú da carne”, “Seu Pedro de Finha”, dentre vários. Pessoas queridas que, iguais a ela, aqui se instalaram cheias de esperança, num tempo difícil, mas pautado de sonhos, vontade de vencer e acreditar num futuro melhor.

Miranda no "Natal das Crianças", Parque Aristófanes Fernandes, 2016

São 72 anos pisando o chão de Parnamirim. Dona Irene é muito conhecida na cidade não só pelo longo tempo em que habita, mas acima de tudo, por sua solidariedade, acolhimento sem distinção e doação natural em ajudar a quem chega em sua residência, seja com algo material ou com uma simples e sadia conversa. Chamada carinhosamente por “Vó Irene”, por vários comerciantes e trabalhadores do centro de Parnamirim, tem fama de conselheira, e muitos que chegam por ali a procuram para ouvir suas orientações e conselhos, sem nunca perder o bom humor nem abrir mãos das inúmeras piadas que conta. É muito espirituosa e brincalhona. Com certeza, essas características foram grandes aliadas para estar de bem com a vida, principalmente nos momentos difíceis que passou.

Ao longo de sua existência. Ela perdeu outros filhos e viveu momentos de muita dor, mas segue firme, sempre preocupada com a família, mesmo que tenha uma vida tranquila, que não precise dos filhos financeiramente, ela se doa em primeiro lugar à família que construiu com muito amor ao lado do falecido marido. Para ela, uma das suas maiores alegrias é quando chega um filho em sua casa, nem que seja para pedir a benção, tomar um cafezinho rápido e sair, ou quando todos estão juntos. Ela diz “isso não tem dinheiro que pague, só de ouvir a palavra 'mãe' já é um remédio”.

Dona Irene, ao contar muitos dos episódios guardados em sua memória, costuma dizer que “o segredo de tudo é lembrar das coisas boas, pois as ruins ficam no passado”. Lema que prova todos os dias com sua própria vida. Sua marca é a irreverência, alegria, acolhimento e otimismo. É considerada por todos que a conhecem como um exemplo de doação, coragem, força e fé. L.C.FREIRE - IHGRN

ABAIXO SEGUE OS DADOS DA FAMÍLIA:


Ordem


Nomes


Codinome



Data nascimento


1


Irene Costa Miranda – Mãe


Irene


01 de abril de 1938


2


Antonio Miranda – Pai


Seu Miranda

 02/07/1932 22/10/1998


3


Tadeu Costa Miranda – Filho



Tadeu


24 de agosto de 1954



4


Aluisio Costa Miranda – Filho


Zuca

 00/00/0000 31/03/1979

5

Francisca Costa Miranda – Filha

Vera

12 de setembro de 1959

6

Selma Costa Miranda – Filha

Selma


7

Francisco Costa Miranda – Filho

Miranda

14 de abril de 1963

8

Wilson Costa Miranda – Filho

Wilson

02 de julho de 1965

9

Jaime Costa Miranda – Filho

Jaime

16 de novembro de 1966

10

Sales Costa Miranda – Filho

Sales

21 de fevereiro de 1968

11

Isabel Costa Miranda – Filha

Isabel

17 de agosto de 1969

12

Suely Costa Miranda – Filha

Andréia

18 de dezembro de 1972

13

Antonio Costa Miranda – Filho

Toia

30 de janeiro de1970

14

Jane Costa Miranda – Filha

Jane




Ordem

Nome

Qtd. Filho

Qtd. Neto

Tadeu Costa Miranda

2

2

Aluisio Costa Miranda In memória

Francisca Costa Miranda

2

1

Selma Costa Miranda

3

0

Francisco Costa Miranda

2

2

Wilson Costa Miranda Solteiro

Jaime Costa Miranda

4

1

Sales Costa Miranda

2

1

Isabel Costa Miranda

2

0

Suely Costa Miranda

1

0

Antonio Costa Miranda

2

0

Jane Costa Miranda

2

0




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