SR. CALIXTRA PEREIRA FILHO |
José Calixtra Pereira Filho
nasceu há 77 anos, em 20 de novembro de 1947, às cinco horas da manhã, em meio
à natureza exuberante de Taborda, distrito de São José de Mipibu. Sua infância
transcorreu em uma propriedade pertencente a Olavo Feliciano de Araújo,
proprietário de engenho. Essa propriedade possuía uma capela, uma casa de
farinha e uma beneficiadora de agave, além de vastas roças de macaxeira,
mandioca, inhame, feijão, batata-doce e diversas fruteiras. Filho de José
Calixtra Pereira e Joana Alexandre Nascimento Pereira, Calixtra foi matriculado na
escola local aos sete anos. Durante o dia, ajudava seu pai nas colheitas,
enquanto as aulas aconteciam à tarde.
Na época da colheita de feijão, ele tinha a responsabilidade de pastorá-las para que as ovelhas não se alimentassem dos grãos. Por essa tarefa, recebia uma pequena remuneração de "um tostão" por dia, totalizando seis tostões por semana, que era uma cédula de 500 réis e uma moeda de 1 tostão, quantia que trazia grande alegria, pois era a primeira vez que ele via dinheiro. Seu pai sempre o ensinou a poupar, assim, nunca ficava sem dinheiro, mesmo que fossem centavos.
Em 1958 seu pai resolveu ir
morar em Parnamirim, arrumando emprego numa pequena granja onde hoje está o Comercial
de Ferragens 101, de propriedade de uma senhora por nome de Elza, funcionária
dos Correios administrado pela Sr.ª Elsa Machado, esposa do sr. Josafá Sisino
Machado. Os Correios funcionavam onde atualmente está a Igreja Batista, no
centro de Parnamirim. Próximo dali havia a residência da Sr.ª Nísia, onde hoje
é uma loja de tecido ao lado da “Casa Parnamirim”, de José Siqueira, empresa
que já era antiga no local, segundo ele.
Então o sr. José, pai do
sr. Calixtra, confiou a ela a educação dele, já que ela dava aulas de reforço.
Ficou acertado que ela faria o papel de professora do pequeno Calixtra enquanto
a Escola Presidente Roosevelt estava em recesso, dando-lhe alimento e roupa, e
como pagamento ele ficaria à disposição para trabalhar para ela, já que não
tinha como pagar. Essa senhora disse que o pai não se preocupasse, pois ela
conseguiria uma vaga para ele sem problemas. Mas passaram três meses, chegou o
fim do ano, iniciou-se o outro ano e nada de ela matriculá-lo. Ao invés de aluno, virou uma espécie de trabalhador infantil daquela senhora, sem tempo para sua infância. O sr. José
questionou-a, mas ela não demonstrou a menor sensibilidade, inclusive retornou ao Rio de Janeiro, terra natal dela. Então o pequeno Calixtra retornou para para sua casa do mesmo jeito que chegou. E atrasou mais dois anos da sua vida estudantil.
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SR. CALISTRA É APAIXONADO PELA NATUREZA. POR ELA ELE TEM UMA ESPECIE DE DEVOÇÃO |
Em seguida, o sr. José
conseguiu emprego numa granja maior, cujo proprietário tinha relação com a Base
Aérea e descartava muito lixo com osso, papelão, alumínio, ferro, vidro,
materiais que àquela época passavam compradores que as reciclavam. Calixtra e o
pai recolhiam e transportavam cada um em sua carroça. Em 1963 eles mudaram de
granja novamente. Dessa vez ficava próxima aonde hoje está os Correios, ocasião
em que Calixta fez uma caixinha de madeira, comprou os materiais e passou a ser
engraxate, fazendo ponto num local muito conhecido, no centro, o famoso
“Fiteiro”, onde apareceram vários clientes.
Certa vez conheceu um
curitibano que trabalhava na Base Aérea. Esse homem gostou muito do jeito do
jovem Calixtra e o convidou para trabalhar como auxiliar de cozinha no
restaurante da Base, num restaurante que se chamava “A Cafeteria”. Ali ele
trabalhou algum tempo até ser convidado a trabalhar num restaurante do
Aeroporto Augusto Severo, onde exerceu a profissão durante mais de um ano,
quando saiu e em 1965 passou a trabalhar como mecânico de bicicleta juntamente
com os jovens Birec e Oscar, ambos estão vivos e permanecem em Parnamirim.
Nesse tempo eles se mudaram para uma localidade que se chamava “O Carrasco”,
onde hoje é o bairro Boa Esperança, onde moravam uns seis meses, mudando
novamente.
Em 1965 ele passou a trabalhar
como ajudante de pedreiro, quando conheceu Maria Socorro Cavalcanti Pereira,
que futuramente se tornaria sua esposa. Em 1968 ele passou a frequentar a
Igreja Batista de Parnamirim. Socorro é natural do Crato, no Ceará, quando seus
pais resolveram ir morar na Paraíba, onde nasceu seu pai, e depois se mudaram
para Natal, próximo â lagoa do Jiqui. Calixtra e Socorro namoraram durante cinco
anos – um namoro conturbado, reprovado pelo pai dela – mas que findou em
casamento, pois durante esse tempo, devido à prática, ele aprendeu o ofício de
pedreiro e passou a juntar um bom dinheiro, trabalhando de carteira assinada,
cuja primeira empresa que o contratou foi a Souto Engenharia. Foi quando se
casaram no dia 21 de novembro de 1970.
Ao longo do tempo, já como
pedreiro profissional, ele trabalhou em outras empresas, inclusive em Natal,
como a Proec, a Concil e a Cincol. A partir de 1977 sua esposa Socorro adoeceu,
e como eles só tinham um ao outro, ele optou a trabalhar de forma autônoma,
como biscate para ficar próximo à esposa, dando-lhe a devida atenção, tendo em
vista que ela precisou ter a perna amputada, tornando-se cadeirante, mas nunca
deixou de fazer serviços de pedreiro esporadicamente. Atualmente está
aposentado. Em sua casa se encontra um imensidão de materiais de sucata,
matéria prima para a sua criatividade como luthier e um verdadeiro “professor
Pardal”, inventor de ferramentas e assessórios para facilitar a vida das
pessoas. Sr. Calixtra já fabricou diversos Ukulelês e atualmente se dedica à
fabricação desses instrumentos musicais. Sr. Calixtra é membro da Igreja Batista
de Parnamirim.
Como se percebe, a vida de
toda família se ambientou em terras parnamirinenses devido à proximidade, de
maneira que ele se considera um parnamirinense. Desde que nasceu, suas relações
sociais sempre foram em Parnamirim. É filho de José Calixtra Pereira e Joana
Alexandre Nascimento Pereira, ambos potiguares.
Calixta e Socorro tiveram dois
filhos: Jederfeson Cavalcanti Pereira e Lídia Cavalcanti Pereira. Há alguns
anos reside à rua Francisco Tomás de Vasconcelos, nº 150, Rosa dos Ventos,
bairro de Parnamirim. Durante toda a sua vida, o Sr. Calixta sempre foi apaixonado
por música, mas quando jovem, não teve a oportunidade de se dedicar a esse
ofício, findando num sonho distante, tendo em vista que nem mesmo a
universidade existia por aqui.
Nascido num lar humilde, era
comum a todas as famílias humildes daquele tempo usar latas de goiabada e
marmelada como prato. Aos 9 anos de idade, em suas andanças com o pai, ele
presenciou um senhor fazendo rabeca, e isso o deixou maravilhado, pois viu que
uma pessoa podia fabricar instrumentos musicais. Então ele teve um insight e só
enxergava as latas de goiabada como matéria prima para a ideia.
Ele não pensou duas vezes.
Pediu ao pai uma lata dessas e fez um instrumento de cordas, usando arame,
madeira e pregos. Foi o seu “violão”. O fascínio pelo brinquedo foi tão grande
que tornou-se extensão do seu corpo. O pequeno Calixta divertiu-se durante
parte da infância com essa invenção. Inclusive brincava com amigos da mesma
idade, vizinhos do sítio. Quando quebrava, fazia outro.
Como o tempo só anda para
frente, o tempo andou, andou, andou muito... Quase 70 anos depois – no tempo
sombrio da Pandemia – anos 20 do século atual, eis que ele se encontra com um
rapazinho por nome de Mateus, que era músico e tinha um instrumento musical
chamado “Ukulelê”. Naquele instante, veio à memória do sr. Calixta a experiência
com os instrumentos de lata de goiabada.
As lembranças do sítio vieram
à sua mente. Ele pegou o instrumento, pegou um papel, colocou o Ukulelê sobre a
folha e riscou o molde. Chegando em casa, guardou e ficou pensando sobre que
madeira iria usar. Havia uns pés de manga derrubados num terreno do seu bairro.
Então ele conseguiu alguns galhos bem grossos e levou para casa para
analisa-los. Dias depois, cortou um pedaço com 65 centímetros e foi dando forma
ao Ukulelê. Comprou os “acordeamentos”, as tarraxas numa casa especializada e
fez a peça, usando uma bitola. Assim nasceu um Ukulelê de 52 centímetros, cujo
som é agradável. Agora não era mais o brinquedo de lata de goiabada, nem feito
por uma criança, exceto a criança que ele diz habitar dentro dele. Ficou
bonito, e o som, perfeito.
Quem lê essa história, imagina
que o sr. Calixtra hoje se tornou um músico, lê partituras e tudo mais. Ledo
engano! Por mais incrível que pareça, o sr. Calixta não toca instrumento algum,
ele apenas faz improvisos para cordel, pois gosta de declamar. É mais um dos
seus dons. E nessa história ele já fez quatro Ukulelês. Um doou ao professor da
Igreja Evangélica Batista (PIBP), onde congrega, e o outro deu para um neto.
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UM DOS UKULELÊS FEITO PELO SER CALISTRA |
O sr. Calixtra é aquela pessoa
cuja forma em que foi feito se quebrou e a jogaram ao mar. É um homem querido
por todos e por onde anda espalha o bem. Como disse, ele tem outros talentos. É
dotado de ampla sabedoria, e ela se reveste de uma notoriedade maior porque é
vestida de simplicidade. O sr. Calixtra é um exemplo vivo de que o homem é
dotado de muitos dons, e que eles podem aflorar a qualquer momento.
Há nele um filosofar
constante, e esse filosofar é uma aula, pois ele arranca da natureza os mais
fundamentados exemplos para compará-los à vida humana, aos fatos, às relações
sociais etc. Desse modo viajamos em suas narrativas. Inclusive é um livro aberto
sobre a História de Parnamirim com um detalhe: ele viveu a história. É mais
velho que o próprio município onde mora. Ouvir um homem como o sr. Calixtra é
conhecer fatos que, se não fosse através dele - e de outros pioneiros -,
estariam esquecidos e correriam o risco de serem sepultados para sempre.
Um dado curioso: ninguém ouve
da sua boca uma palavra torpe nem um maldizer de alguém. Nada que denote
sujeira humana. Observo sutis formas de expressar a sua religiosidade, sempre
dentro de um contexto, sem menosprezar a possível crença de alguém, ou a sua
ausência, ou defender a sua fé como a correta, a ideal, a superior. É um homem
respeitoso, de excelentes modos no vestir, se comportar socialmente, no falar,
enfim, é um homem raro.
Sr. Calixtra é exemplo vivo de
que todos nós temos vários dons e que uma hora ou outra eles despertam,
somando-se aos outros dons. No presente momento o sr. Calixtra está fazendo dois Ukulelês com madeira de uma mangueira com mais de 30 anos encontrara ali mesmo
no bairro. Não que ele prefira a mangueira, usa porque é mais fácil
encontrá-la. Sr. Calixtra é estudante de música. Faz aulas de coral há 3 anos e
já se apresentou em alguns lugares. Ultimamente ele vem gravando áudios com as
suas lembranças, além de algumas prosas poéticas, pois quer transportá-las para
o papel.
Que história linda a história de um servo do Senhor, conheço a muitos anos, inclusive ele mora próximo a minha família
ResponderExcluirGrande servo do Senhor
ResponderExcluirÉ uma história de vida muito bonita, exemplar! Conheço o irmão Calixta a pelo menos 40 anos. Homem íntegro, digno e de grande coração. Um admirável servo de Deus; que a tempo e fora de tempo fala do amor de Deus a quem passar em seu caminho. Uma vida de obediência e serviço a Deus e de amor ao próximo.
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