Parnamirim é, antes de tudo, fruto de seu povo. Hoje, é um município vibrante, moderno e em constante crescimento, mas sua verdadeira força está enraizada na história daqueles que o construíram com as próprias mãos e com a riqueza de suas culturas. Uma cidade reflete o seu povo.
A localidade "Parnamirim" é mencionada no mapa de MarcGrave já em 1642. O topônimo vem de remotas épocas, inclusive há registros antiquíssimos dando à lagoa mais próxima do centro da cidade - situada dentro de Base Aérea - o nome de "Lagoa Parnamirim" (onde Amélia Machado fazia pic nic). Houve o momento do ninho da aviação, quando esse fenômeno ainda engatinhava e aqui pousaram "pássaros esquisitos de lata", assustando o povo.
Em 14 de outubro de 1927, os aviadores franceses Joseph Le Brix e Dieudonné Costes pousaram no recém-construído “Campo dos Franceses” (também chamado de Campo de Parnamirim), pilotando o monomotor Breguet XIX “Nungesser‑Coli”. Esse voo histórico, parte de um raid intercontinental entre o Senegal (África) e Natal, marcou o primeiro pouso em solo potiguar sem escalas, durando cerca de 19h20min, com média de 180 km/h
Logo depois, em 1933, o piloto Jean Mermoz, pela Air France (ex‑Aéropostale/CGA), pousou em Natal com um avião trimotor, efetivando o primeiro serviço postal aéreo da Europa à América do Sul em rota direta com correspondência de Paris para a região
A partir dessa época, o Campo de Parnamirim tornou-se parada frequente de voos transatlânticos da Aéropostale, da Air France e até da italiana LATI (antes da Segunda Guerra) — ainda que o solo local fosse rústico, com pista de terra e iluminação improvisada por fogueiras e tochas
Sua origem remonta ao período crucial da Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil, em julho de 1941, firmou com os Estados Unidos um acordo que autorizava a instalação de bases militares no Nordeste. Em março de 1942 foi erguido o aeródromo que se tornaria a Base Aérea de Natal (BANT), vizinha à grande instalação americana, o Parnamirim Field. Mas mais do que estruturas estratégicas, ali nasceu um sonho coletivo.
Foram cerca de seis mil trabalhadores — em sua maioria migrantes do interior do Rio Grande do Norte e de estados vizinhos — que ergueram com esforço diário o Parnamirim Field. Vieram fugindo das secas e da escassez, carregando esperanças e trazendo consigo tudo o que eram: saberes agrícolas, ofícios artesanais, tradições culturais e religiosas. Cada um, com sua bagagem de vida, construiu um pedaço da cidade.
Durante a guerra, aviões pousavam a cada três minutos, milhões de litros de combustível eram consumidos diariamente, e a infraestrutura do campo de pouso crescia com clubes, mercados e cinemas. Mas foi fora das cercas da base que a verdadeira Parnamirim nascia. Em barracas improvisadas, esses homens e mulheres começaram a erguer casas e formar laços comunitários. O que era apenas um acampamento tornou-se um bairro, e depois uma cidade.
Esse povo trouxe consigo o calor humano do sertão, do seridó, do agreste e de todos os confins norte-rio-grandenses, as festas populares, a culinária, as cantorias e, sobretudo, a fé. A devoção a Nossa Senhora de Fátima, padroeira da paróquia criada em 1952, tornou-se símbolo de unidade. A solidariedade entre vizinhos, a criatividade para superar as dificuldades e a capacidade de celebrar a vida mesmo em tempos duros foram os alicerces de Parnamirim.
Em 1958, o povoado que havia se formado ao redor da base tornou-se município emancipado de Natal. E não há dúvida: Parnamirim não seria o que é hoje sem a coragem e a força daqueles migrantes. Cada rua, cada bairro e cada tradição cultural carregam a marca da diversidade que eles trouxeram.
São os filhos e netos desses pioneiros que hoje conduzem a cidade, seja na administração pública, no comércio, nas escolas, nos serviços e nas manifestações culturais. São eles que preservam as tradições herdadas — as festas, a música, a sabedoria popular — e que continuam a dar novos rumos à cidade, sempre inspirados pelo legado de quem acreditou no futuro daquele pedaço de chão.
Mesmo com a transferência do Aeroporto Augusto Severo para São Gonçalo do Amarante, um episódio que arrancou de Parnamirim um símbolo histórico, a cidade segue firme porque carrega algo que nenhuma mudança externa pode retirar: a força do seu povo.
A base aérea e a presença dos americanos durante a guerra foram, sem dúvida, importantes para acelerar o desenvolvimento urbano. Mas Parnamirim não se resume a isso. Foi o povo que chegou, acreditou e permaneceu que transformou um simples campo de pouso em um lar. Foi o povo que transmitiu valores de união, trabalho, fé e esperança que até hoje definem a cidade.
Parnamirim é o reflexo vivo da cultura, da garra e da sabedoria de seus moradores. É a prova de que quando o povo acredita, ele constrói não apenas uma cidade, mas um legado.
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