Contam os livros – e os pioneiros
de Parnamirim, município da região metropolitana de Natal – que toda a área
onde espraiou-se essa cidade, demorava-se um tabuleiro de Alecrim silvestre a
perder de vista.
Recentemente a escritora Angélica
Vitalino publicou o livro “Pega e lê” em que menciona justamente o Alecrim que
se emendava com o horizonte como gigantesco lençol lilás, mas que atualmente
quase não é visto, desaparecido pelo asfalto, concreto e paralelepípedo.
No caudal de tantos tipos de
Alecrim, tantos nomes populares e tantos nomes científicos e tanta semelhança
uns com os outros, deu um nó nos meus pensamentos.
Em 2009 o então prefeito Maurício
Marques dos Santos, após aprovação da Câmara Municipal, sancionou a lei número
1.470, de 19 de novembro de 2009, com quatro artigos, instituindo o “Alecrim de
Tabuleiro” como Planta-Flor símbolo da cidade de Parnamirim/RN. O artigo 2º diz
que seu nome científico é “Rosmarinus Officinalis”. Esse alecrim, no
caso, é o que fazemos chá e é muito comum nos quintais e nas prateleiras dos
supermercados, também usado como condimento. A flor do Rosmarinus
officinalis é pequena, azul, rosa ou branca.
Catorze anos depois, provocado
por algum cidadão interessado no assunto – e que considerava errado o nome
científico até então aprovado –, o prefeito Rosano Taveira sancionou a lei
número 2.403, de 26 de junho de 2023, com o seguinte teor:
“Art. 1º O
Art. 2º da Lei Ordinária nº 1,470, de 19 de novembro de 2009, modificado passa
a vigorar com a seguinte declaração: Art. 2º Com o nome científico Baccaris
Dracunculifólia, o Alecrim do Campo (Alecrim de Tabuleiro) por sua natureza
morfológica, botânica, geográfica...”.
Nessa situação temos duas
plantas, a primeira é a Rosmarinus officinalis e a segunda a Baccharis
dracunculifólia, oficialmente declarada, depois, como flor símbolo de
Parnamirim. As flores da Baccharis dracunculifólia são brancas.
Nas floradas os galhos ficam pesados como um só buquê.
O Alecrim de Tabuleiro – esse que
os pioneiros contam que se esparramavam em toda essa região – faz grandes
moitas e por vezes atinge dois metros a mais. Ele se esparrama no terreno, tem galhadas
e caule finos, muito compridos, que se quebram fácil, cujas folhas são miúdas,
mas largas se comparadas ao Rosmarinus officinalis que parecem palitos.
São plantas parecidas e com
propriedades medicinais diferentes. A Rosmarinus officinalis tem
propriedades medicinais que auxiliam na digestão, combate gases, estimula a
vesícula, protege o fígado, é anti-inflamatória, analgésica, antidepressiva e
ainda é eficiente contra o cansaço físico e mental. A Baccharis
dracunculifolia apresenta atividade anti-microbiana contra diversos tipos
de bactérias. Estimula a produção de insulina pelo pâncreas, protege o pâncreas
e aumenta a eficiência da insulina na corrente sanguínea. Combate úlceras
gástricas e também tem efeito anti-inflamatório!
Pois bem, ambas são Alecrim. Mas tenho
dúvida quando coloco esses dois Alecrim juntos e olho para o alecrim ainda
encontrado em Parnamirim, ou seja, o Alecrim de Tabuleiro (embora tenha outros
nomes, como Alecrim Caboclo, depende do estado nordestino e região mesmo dentro
do próprio estado).
Tento me convencer de que o
Alecrim de Tabuleiro que existiu em abundância em Parnamirim, é o Lippia
Gracillis Schauer, pois é o que mais se parece com o que ainda encontramos
pelas matas de Parnamirim. A flor da Lippia gracilis Schauer,
popularmente conhecida como alecrim-de-tabuleiro, planta endêmica do
Nordeste brasileiro tem a cor branca, caule quebradiço, com folhas pequenas,
aromáticas e picantes, de pouco mais que um centímetro de comprimento. As
flores são miúdas e amarelo-esbranquiçadas.
.......................
Para mim a Erva Cidreira (Lippia
alba - Popularmente conhecida com Erva cidreira brasileira, Erva cidreira
de arbusto, Erva cidreira do campo, Falsa erva cidreira, Falsa
melissa, Alecrim do campo, Erva cidreira brava, Sálvia-da-gripe,
Sálvia, Sálvia-trepadora, Salva-brava, Cidrilha) é prima próxima do
Alecrim de Tabuleiro. Digo isso por causa da enorme semelhança entre ambas das
folhas, flores, talos e a ramagem, além da cor da flor (lilás). E essa
semelhança não acontece quando a colocamos diante da Rosmarinus officinalis
e a Baccharis dracunculifólia...
Enfim, sigo tentando entender
qual, de fato, é o Alecrim que permeou os tabuleiros desse pedacinho do
Brasil...
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