1 - TRÊS CASAS EM ESTILO FRANCÊS NA VILA DOS FRANCESES, CONSTRUÍDA EM 1927 E REUTILIZADA COMO VILA JEAN MERMOZ PELA FAB E HANGAR DOS FRANCESES.
Há um detalhe histórico que passa despercebido por muitos no contexto do Rio Grande do Norte, especialmente no
município de Parnamirim, onde está localizado. Décadas antes de os militares
norte-americanos estabelecerem suas bases na região durante
a Segunda Guerra Mundial,
aviadores franceses, italianos e ingleses já haviam pousado suas aeronaves em
solo parnamirinense, deixando marcas tangíveis, algumas das quais permanecem
intactas até hoje. Inclusive, uma aviadora norte-americana de renome, Amelia Earhart (1897-1937), pousou no
local em 1937, conforme atestado por registros preservados em um prédio ainda
existente em Parnamirim. Amélia Earhart figura entre as pioneiras da aviação
feminina, sendo uma das primeiras mulheres a comandar uma aeronave. Earhart foi
a primeira aviadora a realizar a travessia do Oceano Atlântico em 1928.
Aproximadamente um mês antes de desaparecer, em 1937, ela realizou uma escala
em Parnamirim, no Rio Grande do Norte, durante um voo que a levaria até Dakar,
na África, em mais uma travessia transatlântica, parte de sua expedição em
volta ao mundo.
Primeira construção erguida em Parnamirim, no "Campo dos Franceses". Era alojamento dos pilotos, depois Base Militar e estação de Rádio. Fotografia de A. Amaral.
O
espaço que posteriormente se tornaria a Base Aérea de Natal originou-se como
“Campo de Parnamirim” em 1927, na área denominada Base Oeste, próxima à linha
férrea. Esse campo foi escolhido pelos franceses como ponto estratégico da rota
aérea de correio para Buenos Aires. Até o presente, três edificações
construídas pelos franceses permanecem preservadas com sua arquitetura
original, resistindo aos 97 anos de existência. Essas
construções eram a residência e escritório dos funcionários da Air France,
também utilizada como estação de rádio PUY-9 da FAB.
Além
disso, vestígios do HANGAR FRANCÊS e
da primeira pista do Campo de Parnamirim ainda podem ser encontrados. Com a
chegada dos norte-americanos, em 1942, o local foi rebatizado como PARNAMIRIM
FIELD, denominação atribuída pelos militares dos Estados Unidos.
Hangar francês original localizado na Base Oeste – Fotografia (acima): L. C. F. (2017), abaixo: Fundação RAMPA.
FOTO
Em
julho de 1927, o francês Paul Vachet chegou a Natal com a missão de implantar
um aeródromo destinado a servir a empresa de correio aéreo Latécoère. O espaço
ideal para essa finalidade foi localizado a 17 quilômetros ao sul da capital.
Em outubro do mesmo ano, ocorreu o primeiro voo registrado no Campo de
Parnamirim, trazendo os pilotos franceses Costes e Le Brix, que participavam de
um raid internacional. Embora não fizessem parte da Latécoère, foi a primeira
vez que uma aeronave completou a rota África-Natal sem escalas.
O
ambicioso plano francês de conectar Paris a Buenos Aires por uma rota
totalmente aérea concretizou-se em 1930, quando Jean Mermoz partiu do Senegal e
pousou em Natal, trazendo correio postal parisiense destinado a várias
localidades da América do Sul. A rota operou até 1940, já sob o nome de Air
France, quando a França capitulou perante a Alemanha durante a Segunda Guerra
Mundial.
Ainda
em 1940, a empresa italiana de correio aéreo Linee Aeree Transcontinentali
Italiane, LATI, estabeleceu-se ao lado dos franceses em Parnamirim,
compartilhando a mesma pista de pouso. De maneira curiosa, em maio daquele ano,
a Itália declarou guerra à França, mas, por cerca de um mês, as duas nações
continuaram utilizando o mesmo aeródromo. Em 1941, os italianos abandonaram o
Brasil, devido ao bloqueio de combustível coordenado pelos Estados Unidos, que,
embora não estivessem ainda formalmente em guerra, apoiavam os britânicos e
utilizavam a BASE DE PARNAMIRIM por meio de um acordo com o governo brasileiro,
denominado Airport Development Program.
Esse
acordo visava ao desenvolvimento de aeroportos no Brasil, e a construção de
PARNAMIRIM FIELD iniciou-se em julho de 1941, com o verdadeiro intuito de
exportar equipamentos bélicos aos aliados britânicos que combatiam no norte da
África. No entanto, essa situação de clandestinidade permaneceu até dezembro de
1941, quando os Estados Unidos entraram oficialmente na guerra.
No
contexto da guerra, a presença militar norte-americana em Parnamirim Field foi
aceita pelo Brasil em razão do Tratado de Havana, assinado em julho de 1940.
Assim, quando os militares estrangeiros chegaram, em janeiro de 1942, ocuparam
o lado francês do CAMPO DE PARNAMIRIM, enquanto o hangar da LATI foi cedido ao
Exército Brasileiro, que o utilizou para espionar as movimentações dos
americanos. Em março daquele ano, os norte-americanos desocuparam essas
instalações e assumiram a BASE DE PARNAMIRIM, cujas primeiras edificações já
estavam concluídas. Em 02 de março de 1942, o governo brasileiro oficializou a
criação da Base Aérea de Natal (BANT), por meio do Decreto-Lei nº 4.142,
assinado pelo então Ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, do governo Getúlio
Vargas. No entanto, a ativação oficial da base só ocorreu em 05 de novembro do
mesmo ano. Assim, as duas bases aéreas – a BANT e PARNAMIRIM FIELD – passaram a
operar simultaneamente, com a base brasileira localizada na área que ficou
conhecida como "BASE OESTE" e a americana como "Trampolim da
Vitória".
Residência e escritório dos franceses, reaproveitada pelos norte-americanos (vistos na fotografia) durante a Segunda Guerra Mundial – Fotografia de domínio público.
Com
o fim da Segunda Guerra Mundial, os norte-americanos desocuparam PARNAMIRIM
FIELD, que foi incorporado pela Força Aérea Brasileira. A BASE OESTE continuou
como instalação militar, mas também passou a abrigar o Aeroclube do Rio Grande
do Norte e o hangar oficial do Governo do Estado. Os prédios remanescentes da
década de 1940 abrigaram, até recentemente, a Escola Estadual Santos Dumont, a
Brigada de Incêndio e o almoxarifado.
Aspecto de uma das três residência dos franceses, com destaque para o telhado de telhas francesas, intactas – Fotografia: Luís Carlos Freire - 2017
Essas
três construções remanescentes são, portanto, merecedoras de tombamento e de
cuidados adequados, pois representam o berço da aviação no Rio Grande do Norte
e são marcos na História do Rio Grande do Norte.
Residência dos franceses – Fotografia: L. C. F. - 2017
Escritório dos franceses num registro de 1927 – Fotografia: “História de Parnamirim”, Carlos Peixoto.
2 – CAPELA DE NOSSA SENHORA
DA PENHA – 1957 – BAIRRO PASSAGEM DE AREIA – PARNAMIRIM – RIO GRANDE DO NORTE
A capela de Nossa Senhora da Penha foi construída em 1957, num dos bairros mais antigos de Parnamirim. Nos anos 40, por solicitação do tenente José Augusto Nunes, pioneiro e, futuramente prefeito de Parnamirim, cuja gestão se daria entre 1965 a 1970.
Ele sofreu um acidente grave no Rio de Janeiro, onde residiu por determinado período. Muito católico, ele elevou suas preces aos céus, pedindo a intercessão de Nossa Senhora da Penha em favor de sua recuperação.
Augusto Nunes prometeu construir uma capela exatamente no bairro Passagem de Areia, se fosse restabelecida a sua saúde e não ficasse com sequelas. Meses se passaram e ele tornou-se o mesmo homem de sempre, sem qualquer sequela. Muito feliz, ele retornou para o Rio Grande do Norte e mandou construir a capela de Nossa Senhora da Penha.
Os limites do bairro foram
definidos pela lei nº 783/1993. Toda essa área pertencia a um conjunto de
sítios e granjas pertencentes aos senhores Osmundo Faria, Saturnino Laranjeira,
Paulo Rodrigues e Aproniano Sá.
O nome “Passagem de Areia” tem mais que uma versão. Uma delas diz que os antigos moradores da localidade, quando iam para o centro, alertavam quem ia de carro pela principal estrada, prevenindo-os sobre possível atolamento do veículo nos extensos areais que se espraiavam ao longo da estrada que margeia a referida localidade, fenômeno que se dava devido às chuvas e a proximidade do rio Pitimbu.
Nesse bairro há um grupo de
remanescentes quilombolas que se estabeleceram no ponto chamado Moita Verde, no
final do século XIX, oriundos da comunidade Capoeiras, de Macaíba, município
vizinho.
Residência para funcionários da antiga Estrada de Ferro – localizada na frente da linha férrea de Parnamirim – Fotografia: L.C.F.
Essa residência é a única
construção original que restou da História ferroviária de Parnamirim. Embora os
trilhos da Great Western cortavam a localidade desde 1881, essa residência é
datada dos anos 40. Foi construída para abrigar funcionários da rede
ferroviária. Originalmente ela ficava atrás da estação ferroviária de
Parnamirim, exatamente na frente das três casas em estilo francês, citadas
acima, pertencente à FAB. A primeira estação foi demolida e construída mais
adiante, tendo sido novamente demolida e construída mais adiante, sendo hoje
Estação de VLT da CBTU. Essa residência permanece intacta.
4 – IGREJA MATRIZ DE NOSSA
SENHORA DE FÁTIMA – CENTRO DE PARNAMIRIM – RIO GRANDE DO NORTE
Igreja
Matriz de Nossa Senhora de Fátima - Fotografia: Joserley C. de Souza
A
Igreja Matriz de Nossa Senhora de Fátima foi criada no dia 1º de abril de 1952.
Está situada no centro da Praça Paz de Deus, centro de Parnamirim.
5
– VILA DOS OFICIAIS DA AERONÁUTICA – PARNAMIRIM – RIO GRANDE DO NORTE
6 – CASARÃO DO ENGENHO
PITIMBU – CASA DE VERANEIO DE MANOEL MACHADO E VIÚVA MACHADO
Esse casarão foi construído no final do século XIX no Engenho Pitimbu, área rural de Parnamirim. É a construção mais antiga desse município. Era a casa para descanso de Manoel Machado e Amélia Machado (a “Viúva Machado), doadores do terreno onde foi construída a Base Aérea e onde se configurou o município de Parnamirim.
Estamos diante de um tesouro histórico de tamanha grandeza, considerando se tratar da mais antiga construção erguida em terras de Parnamirim e que felizmente está preservada.
Amélia Duarte Machado (a "viúva Machado", em fotografia de Argemiro Lima). Essa é, de fato, a pessoa que estamos falando, pois existem muitas fotografias em grupos de internet, todas mostram outra pessoa. É o mesmo caso que acontece com Nísia Floresta, em que boa parte das imagens expostas na internet como sendo Nísia Floresta, é na verdade Isabel Gondim.
Vista aérea do Engenho Pitimbu onde morou Manoel Machado e Amélia Duarte Machado |
Parnamirim nasceu com a doação de uma imensa
área, por parte do milionário Manoel Machado. Durante a Segunda Guerra Mundial, Amélia
Machado se tornou a principal fornecedora de equipamentos, ferramentas,
serviços e até mesmo com o poder de empregar pessoas conhecidas numa cidade
que se tornaria um canteiro de obras, por nome de Parnamirim. Tudo
rigorosamente supervisionado pelos militares norte-americanos que exerceram
uma influência incomum a Natal desse período. |
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Presidente
Getúlio Vargas e o Presidente Roosevelt em Natal - 1942 |
L. C. F. PARNAMIRIM, 2019
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